O dia acordava cinzento. Já estava farta de esperar e acordei com um mau humor terrível. Por volta desta hora alguém tocava insistentemente à minha porta e eu, que estava sem vontade nenhuma de sair da cama, lá me arrastei a custo para a abrir. Era a minha irmã, também muito grávida, na altura.
Tinha consulta na MAC por volta das 13, por isso aproveitei para me levantar e ir adiantar algumas coisas (roupa, jantar) para não ter que as fazer mais tarde, já com o Henrique em casa.
Já na consulta, por volta das 15, a médica, ao tentar descolar-me a membrana, rebentou-me a bolsa (médica novinha, ficou em êxtase porque era a primeira vez que lhe acontecia...). Eu não achei piada nenhuma. Já não podia voltar a casa, já não podia ir buscar o Henrique... Não tinha planeado assim o meu dia.
De certa forma não estava preparada. Desta vez, com um bebé em casa, queria que tudo corresse conforme planeado. E eu tinha um plano, e aquela médica a rebentar-me a bolsa não estava no meu plano. Chorei, nervosa. Tive que pedir ajuda porque precisava que alguém fosse ter com o meu filho para que ele não se sentisse triste, porque eu não o tinha avisado de que tinha chegado o dia.
Dei entrada na Maternidade, atribuiram-me um quarto e perguntaram-me se não tinha ninguém para ficar com as minhas coisas. Não! O pai da criança estava com quem realmente precisava dele, a outra criança. Apesar da sua insistência, pedi-lhe que não viesse, que fosse buscar o Henrique à escola e ficasse com ele o máximo de tempo possível. Eu estava bem, à espera. Fizeram-me assinar um termo de responsabilidade porque não podiam ficar com os meus objectos pessoais sem mais. Pediram desculpa mas já tinha acontecido terem reclamado por causa de umas cuecas desaparecidas e desde então, as grávidas que não estão acompanhadas, têm sempre que assinar o dito papel a desresponsabilizar a MAC por qualquer perda ocorrida. Eu na boa... tinha todo o tempo para assinar aquele e outros papéis porque, ao contrário do que tinha planeado, a médica rebentou-me a bolsa e eu não podia fazer mais nada senão esperar.
O pai chegou mais tarde, já depois de dar banho e jantar ao outro filho que entretanto ficou com a minha mãe, em casa, no seu espaço, como eu planeei. Não queria que ele tivesse que sair de casa. Queria que as suas rotinas se mantivessem, dentro do que era possível. Nessa altura era ele a minha principal preocupação. Era com o seu bem estar que eu estava preocupada. Ela estava bem, ainda cá dentro, protegida pelas águas que a médica tinha feito o favor de rebentar, contrariando todo o meu plano de parto.
Os médicos diziam que "a coisa" estava demorada. Tem aqui umas boas 12 horas pela frente, dizia uma. A bebé está muito subida.
O pai saiu por volta das 21, acho, para jantar. Eu, tranquila, sem dores, à espera, estava esfomeada e pedi também que me trouxessem jantar. Comi tudo. Precisava de ganhar força para as horas que se seguiam.