Quando somos mãe percebemos quase
automaticamente que tudo o que até aí havíamos entendido como amor, mesmo o
mais intenso dos amores, mais não era do que uma sombra de um sentimento sem
nome que nos enche, que nos completa, que nos transforma e que muitas vezes nos
faz ficar sem chão, que é o sentimento que temos pelos nossos filhos.
Tornamo-nos lobas, leoas,
descobrimos em nós força que desconhecíamos que nos permitem, por exemplo,
passar noites seguidas sem dormir e manter algum nível de integridade física e
psíquica. Ganhamos resistência a determinadas coisas que antes nos consumiam, objetivamos
mais, crescemos, para podermos ensinar a crescer, numas alturas, ou
simplesmente, assistir e apoiar o crescimento dos nossos filhos.
Tudo isto nos transforma em
pessoas melhores, mais ricas, tendencialmente mais capazes para lidar com
contrariedades, para solucionar imprevistos.
Só há um tipo de imprevisto para
o qual nunca estamos preparadas, aquele que envolve os nossos filhos, a saúde
dos nossos filhos, especialmente. Perante esse em regra bloqueamos, congelamos. Não somos
capazes de analisar a situação friamente, desaprendemos tudo o que a
maternidade e a vida de mãe nos ajudou a desenvolver e sentimo-nos pequenas, mínimas,
a precisar, nós próprias, de uma mãe.
E o medo que nos paralisa, que nos impede
de avançar com aquela segurança que se espera de uma mãe, empurra-nos para um
cantinho escondido, de onde não queremos sair, um cantinho onde nos protegemos
de nós, da vida que sem darmos por isso tomou conta da nossa e se tornou na
nossa própria vida. Queremos ser o antes. O antes que era fácil, o antes que
era só nós, nós próprios, sozinhos, sem eles, sem o ter que cuidar, só a ser
cuidado.
E aí somos pequenas outra vez, já não somos lobas nem leoas, já não resistimos ao sono, nem conseguimos conter o choro. Não temos já soluções. Aí percebemos as mães dos filhos somos nós e que nunca deixámos de ser nós, as mães dos filhos.
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